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O Maior Arquivo do Futebol Amador de Minas Gerais

 

Turma da terceira idade mantém a bola rolando nos campos de Belo Horizonte

   O Futebol Amador de hoje é sustentado pelas lembranças e amor da turma da velha guarda. Há muitos anos, eles trocaram as chuteiras pelo comando técnico, depois de dedicarem longos anos como jogadores. Ao longo dos anos, no entanto, eles se deparam com uma muitas dificuldades para não deixarem seus clubes morrerem. Lembranças de um tempo em que jogar futebol era uma tarefa simples e divertida estão apenas na memória deles e em seus corações.

Rebuscar esta paixão ainda é o objetivo de poucos, que têm esperança em ver o futebol amador crescer e seguir novos caminhos. Mas o desaparecimento das equipes e a rotatividade dos jogadores entre os clubes desafiam a turma que atualmente ocupa a diretoria. 

Santos Social Clube

Na luta para manter um time vale tudo, até mesmo ser roupeiro, presidente e técnico, como é o caso de Francisco Malaquias Ferreira, que completará 87 anos no próximo mês, mas comanda o seu clube com o fôlego de um garoto e se transformou no "faz tudo" do Santos Social Clube.

"O Santos está a minha custa. Eu sou obrigado a cumprir todos os regulamentos do estatuto, que foi feito por mim mesmo, quando eu fundei o clube em 1956. E é conhecido por sua rigidez, principalmente com a boa conduta de seus sócios. Mas hoje eu não conheço ninguém que possa tomar o meu lugar, mesmo respeitando todos os meus dirigentes. Eu não acredito que um jogador ou até mesmo outro dirigente venha assumir os compromissos que eu fiz", lamenta.

Mas para Malaquias, com seus 86 anos, é difícil deixar o time nas mão de outra pessoa. Ele mesmo comanda as preparações físicas e mostra que tem todo o  desempenho físico para tal, apesar da idade. Para ele, ainda não há limites que o impeça de ser o treinador. "Eu tenho muita força de vontade. Não tenho vícios alcoólicos, não fumo, almoço e janto todos os dias e caminho após o jantar, batendo um papo com os meus amigos pelo quarteirão".

Ser o presidente, o diretor-técnico e o treinador não bastam para Malaquias. O uniforme é preparado por ele para manter a organização da equipe. ele nem gosta de se lembrar de uma bagunça que ele encontrou nos últimos dias. Ele comprova sua habilidade futebolística contando como se cobra um pênalti. "Não é que eu queira ser o dono. Mas eu já experimentei diversas condições de treinos e fiz um curso. Sei como chutar a bola na cobrança de pênalti sem que ela vá muito alto, porque aprendi como fazer. Eu tenho prática nisso, porque também sempre joguei. E o técnico tem que conhecer três fatores básicos em um jogador: técnica, tática e psicológico. Eu sei até mais que um treinador profissional".

Associação Esportiva Suzana

O físico pode não ser o mesmo. Quilinhos a mais, cabelos esbranquiçados e o joelho já desgastado pelo tempo. Mas nada disso impede o trabalho de Antônio Jorge Silva na Associação Esportiva Suzana. Mas quem é este Antônio? O velho treinador e ex-jogador do clube, conhecido apenas como Yó em toda a comunidade, hoje é um dos dirigentes mais atuantes do futebol amador. Ele cuida do clube como um filho, como um pedaço de sua família. Mas Yó sente um pouco de descrença em manter sua batalha. Para ele, os atuais jogadores não têm o mesmo entusiasmo em assumir a condição de dirigentes dos seus clubes quando pendurarem as chuteiras.

"Este clube e este time fazem parte da minha família. Estou com 57 anos e, como treinador, fiquei 12 anos. Como jogador, comecei aos 9 e parei aos 42 anos, passando por todas as categorias. Mas continuar na diretoria é muito difícil e vale somente para quem gosta mesmo. Hoje os jogadores não se interessam por seguir este caminho, de cuidar mais do clube. Os jovens jogadores não aceitam sacrificar alguma coisa pelos encargos que são muitos e há muita responsabilidade. E é por isso que estamos vendo vários clubes terminando", lamenta Yó.

Patrimônio do Suzana cresce com o diretor Yó

Yó se orgulha do trabalho que vem dedicando ao Suzana durante a sua vida. E nem parece ter sido uma promessa feita ao tio fundador, o que faz o velho dirigente se emocionar. "O meu tio morava em frente ao campo e era onde havia a jogatina do bairro. ele foi operar de safena e me pediu que não deixasse o clube acabar e a casa ser vendida. A casa hoje não existe mais, foram construídos galpões, que os filhos dele venderam. Ele acabou morrendo e o Suzana virou a minha vida", relembra.

Tanto é o amor de Yó pelo clube que o seu patrimônio vem ultrapassando o campo de futebol. O estádio se transformou em uma praça de esportes bem equipada. "Não temos somente o estádio. Tem a pracinha, onde as árvores foram plantadas pelo pessoal do Suzana, o ginásio equipado com um "campinho de futebol de salão, vestiário e banheiros. Nele nós comemoramos as vitórias e fazemos as festas do bairro. Cuidar disso tudo requer muito mais do que amor ao futebol".

O Suzana também está conquistando bons resultados nos campeonatos. O clube, fundado em 26 de junho de 1953, como o time de funcionários da fábrica de produtos derivados de bovino, levou muito tempo para começar a atuar em competições oficiais, como conta Yó. "O Suzana se cadastrou na federação em 1966. A partir desta data, começamos a participar de campeonatos, e conquistamos o nosso primeiro título no primeiro ano que disputamos a Copa Itatiaia".

Esforço e amor no coração: Receita para ser um bom técnico

Para o diretor Yó, ser treinador de uma equipe de futebol amador requer muito esforço impulsionado pelo coração. "No amador, temos muitas desavenças, mas também muitas amizades. E isso é o mais importante, porque para ser treinador é preciso ter um profundo conhecimento de seu time. Isso porque saberá contar com todas as improvisações. Manter um time é muito difícil. Hoje está mais complicado ainda. Para ser um treinador, é preciso ter alguma experiência em futebol, principalmente de dentro do campo. A vida de treinador de campo de várzea é muito diferente da do profissional. A gente tem que ter uma resistência física também, porque não ficamos parado. E o nosso trabalho em controlar a equipe é muito maior. A vida de treinador é cansativa e difícil".