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DUNGA

Carlos Caetano Bledorn Verri - Volante - Ijuí (RS) - 31.10.63

Dunga. O símbolo de duas eras no futebol brasileiro. Um exemplo de vitória pessoal, superação dos limites técnico, e acima de tudo, de alguém que soube dar a volta por cima. Em 4 anos, passou de herói a vilão na seleção mais temida, amada e odiada do mundo: a Seleção Brasileira. Nunca foi um jogador excepcional, de talento nato. Mas seus gestos, seu excelente conhecimento tático, sua capacidade de posicionamento, liderança e orientação dentro de campo, seu aprimoramento técnico ao longo dos anos e, acima de tudo, sua vontade de vencer, foram essenciais para que colocasse seu nome na história do futebol brasileiro e mundial. 

Dunga nasceu em Ijuí-RS, e logo se destacou jogando em times amadores da região. Foi levado por Emídio Perondi (atualmente presidente da Federação Gaúcha de Futebol), para o time juvenil do Inter. Lá, o mestre Abílio dos Reis viu que aquele jogador baixinho, que jogava como meia amador e marcava muitos gols, poderia ser utilizado como volante. Foi nesta posição que se destacou, sendo convocado para a Seleção Brasileira, que disputou o Mundial de Juniores no México. Ao lado de Bebeto e Geovani, ajudou o Brasil a conquistar o primeiro título mundial na categoria. No ano seguinte, outra conquista: o tetracampeonato gaúcho e a histórica Medalha de Prata nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, feito até hoje não superado. 

De volta ao Brasil, Dunga foi vendido à Fiorentina, da Itália. Ao invés da viagem à Europa, no entanto, preferiu-se que o jovem Dunga permanecesse no Brasil, para ganhar mais experiência. Foi emprestado, então, ao Corinthians, onde acabou ficando mais tempo do que era esperado: dois anos e meio. Pelo clube paulistano, ganhou o estadual de 1984 e o torneio de Los Angeles, no ano seguinte. Virou ídolo de uma das maiores torcidas do País.

Em 86, passaria a defender as cores do Santos. A passagem foi rápida e sem muito brilho. O Vasco acreditou no jogador e o levou para o Rio em 1987. Passou apenas um semestre no clube de São Januário, conquistando o título estadual. Embora tenha ficado tão pouco tempo, acabou caindo nas graças também dos vascaínos.

Foi sua última conquista por clubes brasileiros. Ainda em 87, finalmente embarcaria para a Itália, mas ainda não para a Fiorentina, dona de seu passe. Com muitos estrangeiros, a equipe de Florença optou por dar a Dunga mais um "estágio", mandando-o para o Pisa, que estava ameaçado de rebaixamento. Dunga mostrou que não precisava mais de tantos testes. Ajudou o modesto Pisa a se manter na Série A, com a 13ª colocação. Na histórica vitória por 2 a 1 sobre a Internazionale, marcou um gol do meio-de-campo sobre o lendário Walter Zenga.

A Fiorentina abriu os olhos e, na temporada seguinte, já contava com o jogador em seu elenco. Lá, o "capitão" permaneceu por 4 anos fez tanto sucesso que até hoje, quando a torcida quer pedir reforços para o meio-campo, refere-se a "um Novo Dunga". Seu auge ocorre na final da Copa da UEFA, em 1990, quando a equipe é derrotada na final pela Juventus.

Em 92, deixava a Fiorentina e voltava a um clube pequeno da Itália, dessa vez o Pescara. O nomadismo voltara e, na temporada seguinte, Dunga já estava de malas prontas para a Alemanha, onde jogaria no Stuttgart. Seu estilo de jogo se adaptou perfeitamente ao futebol alemão, onde também foi bem sucedido. Foi nesta época que capitaneou a seleção brasileira campeã mundial nos Estados Unidos, em 94. 

Extremamente valorizado com a conquista, cedeu aos ienes japoneses e foi à Terra do Sol Nascente, onde defendeu o Jubilo Iwata. Virou uma espécie de herói nacional, tamanha é a adoração do povo japonês por ele. Foi no Japão que Dunga conseguiu seu primeiro título nacional, em 1997. No mesmo ano, foi eleito o melhor jogador da temporada.

Perceba que até agora quase nada foi dito sobre sua carreira com a seleção brasileira. É que esta merece um capítulo à parte. Não se deve misturá-la com suas passagens pelos clubes.

Sua trajetória pela Seleção principal começou com Sebastião Lazaroni. Conquistou a Copa América 89, disputada no Brasil. Então, o primeiro estigma que teria que carregar pelo resto da carreira: após críticas ao estilo "feio" de jogar da Seleção Brasileira, Lazaroni teria dito que agora responderia que havia chegado a hora da "Era Dunga", era de jogadores operários, sem muito brilho individual e com muito senso coletivo. Titular da Seleção Brasileira durante a péssima trajetória na Copa do Mundo de 90, Dunga afundou ao lado de seus companheiros e viu o Brasil ser eliminado pela Argentina ainda nas oitavas de final. A "Era Dunga" chegara ao fim, diziam seus ferozes críticos.

Dunga passou 2 anos sem ser convocado, mas Carlos Alberto Parreira não se importou com as críticas e o chamou para as eliminatórias da Copa do Mundo de 94. Dunga mostrou bom futebol. Claramente demonstrava aprimoramento no passe, na bola longa e também no chute, marcando um lindo gol contra o Equador. Mas as críticas continuavam. A imprensa, principalmente a carioca e a paulista, questionavam sua presença em campo como titular. Diziam que era somente um destruidor e que não sabia dar passes longos.

A despeito disto, Dunga foi convocado para a Copa do Mundo de 1994. Titular absoluto do time, fora de campo Dunga tinha outro papel importantíssimo: cuidar de Romário. A maior estrela brasileira sempre nutriu um imenso respeito por Dunga, desde os tempos de Vasco, e foi seu companheiro de quarto. Cabia a Dunga controlar os excessos de Romário durante a Copa do Mundo.

Dentro de campo, enquanto a imprensa brasileira continuava criticando suas apresentações, as estatísticas comprovavam: Dunga era o jogador que menos errava passes em todo o Mundial. Para eliminar qualquer contestação, Dunga ainda participara diretamente de 3 gols do Brasil durante o Mundial: contra Camarões, contra os Estados Unidos e contra a Holanda. 

Depois que Parreira sacou Raí, coube a Dunga honrar a braçadeira de capitão do time. Na final, o volante deveria anular o futebol do astro Roberto Baggio. Na disputa de pênaltis, Dunga bateu o 4° pênalti com perfeição. Baggio errou a cobrança seguinte, e o Brasil conquistou o tetracampeonato. Naquele instante, seu nome entrava para a história do futebol mundial. Era, para sempre, o "Capitão do Tetra".

Dunga, mais uma vez, ficou afastado da Seleção Brasileira por 2 anos. Incomodado com a fragilidade defensiva e, sobretudo, com a falta de personalidade do time, o técnico Zagallo convocou o jogador (que agora gozava de muito prestígio perante à torcida brasileira), para um amistoso contra o Japão. Dunga voltou a mostrar as mesmas qualidades técnicas, se posicionando um pouco mais atrás e com menos velocidade. Mais uma vez, conquistou um título pela Seleção Brasileira: o da Copa América disputada na Bolívia em 1997. Sem o mesmo preparo físico de 4 anos antes, Dunga sofreu uma séria ameaça de corte às vésperas da Copa do Mundo de 98, mas permaneceu na delegação brasileira. 

Durante os jogos, Dunga desempenhou bom papel, sem o mesmo destaque de 94. O lance mais marcante foi a áspera cobrança ao atacante Bebeto, na goleada sobre Marrocos. Dunga foi muito criticado por ter feito uma cobrança pública tão forte, e disse que não ia falar mais nada. No jogo seguinte, com Dunga calado, o Brasil perdeu para Noruega. O jogador voltou ao seu temperamento normal e ajudou o Brasil a chegar à final da Copa da França.

Ao lado do também gaúcho Taffarel, Dunga bateu um recorde na história do futebol brasileiro ao chegar à 19 jogos pela Seleção Brasileira em Copas do Mundo, disputando todos os minutos dos jogos das Copas de 90, 94 e 98. O Brasil perdeu para a França na final, e Dunga perdeu a oportunidade de ser o único jogador da história à levantar a taça de Campeão Mundial por duas vezes. Sua carreira na Seleção Brasileira, com quase 100 jogos, sete gols e diversos títulos, estava definitivamente encerrada.

Em 1999, a realização de um sonho: voltar ao clube do coração, o Internacional. Contratado por um salário milionário, Dunga e o restante do time colorado tiveram um desempenho regular no primeiro semestre. Mas a desastrosa eliminação nas semifinais da Copa do Brasil, e a perda do Gauchão, aumentaram as críticas dos torcedores. Apesar de 37% dos gols do Inter na temporada terem sido através de passes de Dunga, o jogador ficou na reserva durante boa parte do Campeonato Brasileiro.

Sob ameaça de rebaixamento, Dunga voltou ao time do Inter e, mais uma vez, marcou seu nome na história. Aos 37 minutos do segundo tempo, na última rodada contra o Palmeiras, com o Inter a 8 minutos de cair para a segunda divisão, ele estava ali, predestinado, no lugar certo: aproveitou um erro de posicionamento da zaga palmeirense e, de cabeça, marcou o gol da salvação colorada, do fim do pesadelo. 

Na temporada seguinte, atuou algumas vezes e foi claramente desprestigiado pela direção, que fazia de tudo para rescindir seu contrato, sob a alegação de que não teria como pagar seu alto salário. Confirmada sua rescisão, a direção pagou os 435 mil reais de multa rescisória.

Em clara manifestação de desapego ao dinheiro, Dunga doou toda esta quantia a 4 instituições de caridade. A partida contra o Avaí, quando marcou um belo gol de fora da área, foi a última partida oficial de sua longa carreira, iniciada e terminada no Sport Club Internacional, e que marcou para sempre o futebol brasileiro.

Era Dunga. Era de derrotas, de aprendizado e de uma glória máxima, acabando com um longo jejum de 24 anos sem títulos mundiais para o Brasil. Atualmente Dunga segue colaborando em projetos de instituições beneficentes, ocasionalmente atua como comentarista esportivo. É também consultor técnico do Júbilo Iwata, e deseja assumir um cargo diretivo-administrativo em um grande clube do futebol mundial, não optando por ser treinador. 


"Olha aqui, porra!"
(Dunga, capitão da seleção brasileira tetracampeã do mundo em 1994, desabafando ao erguer a taça)

"Reclamo mesmo. Se todo mundo for bonzinho, não chegaremos à lugar algum"
(Dunga, ex-capitão da seleção brasileiras, sobre seu comportamento dentro de campo)

"Cada vez que eu entro em campo com a camisa da seleção, sinto uma emoção diferente"
(Dunga, o eterno "capitão do Tetra")

"Quando cheguei na seleção brasileira, eu não medi esforços para alcançar os meus objetivos, porque eu achava que tudo aquilo que para mim era um sacrifício, as coisas que eu deixava de fazer, no momento em que eu conseguia o meu objetivo, eu olhava para trás e via como tudo aquilo era mínimo perto da alegria de alcançar o que tanto almejava"
(Dunga, o eterno "capitão do Tetra")

"Meu contrato com o Internacional é a vida"
(Dunga, em entrevista ao jornal Zero Hora, quando retornou ao Internacional, em 99, quinze anos depois de começar a carreira no clube colorado)

"Quando falo corretamente, os japoneses ficam tão surpresos que perguntam de novo. Acho que falei errado e mudo a entonação para a maneira errada"
(Dunga, que fala português, alemão, italiano e inglês, sobre sua dificuldade em falar japonês)

"Você pode ser um grande vencedor, mas basta uma derrota para esquecerem tudo que se fez de bom"
(Dunga, sobre a injustiça da mídia)

"Seria um guerrilheiro dos Pampas, se houvesse uma revolução, ou se tivesse que defender sua família, ou seu rincãozinho, em Ijuí, nas épicas terras das missões, no extremo sul do país"
(Teixeira Heizer, jornalista, no livro "O Jogo Bruto das Copas do Mundo", sobre Dunga)