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DIDI

Valdir Pereira - Meia - Campos (RJ) - 08.10.1929

Um dos maiores jogadores de todos os tempos. Habilidade e visão de jogo fora do comum, lançamentos longos e gols espetaculares eram algumas características desse que foi o maior meia do futebol brasileiro. Driblava apenas quando necessário, mas com extrema categoria e eficiência. Negro, alto, de porte esguio, não olhava para a bola, mantendo sempre a elegância, o que lhe valeu o apelido de “Príncipe Etíope”. Jogador de meio-campo, era um meia original e moderno para o seu tempo, marcando e atacando com a mesma intensidade.

Por pouco não se tornou o jogador que foi. Passou grande parte de sua adolescência jogando peladas nas ruas de Campos, no Rio de Janeiro, onde nasceu. Numa dessas peladas, aos 14 anos, levou uma entrada forte no joelho direito. A pancada virou infecção, e a perna correu risco de ser amputada. O então garoto Didi passou meses andando de cadeira de rodas.

Sua história como jogador profissional começou aos 16 anos, no Americano de Campos, em 1945. Teve passagens rápidas pelo Lençoense, de São Paulo (1945) e pelo Madureira (1946). Se firmou como profissional no Fluminense, onde jogou e foi ídolo de 1946 a 1956.  Pelo tricolor, marcou 92 gols em 274. Foi eleito o melhor meia da história do clube carioca. Descontente com o tratamento que o clube lhe dava, foi negociado com o Botafogo, onde jogou de 1956 a 1958. É considerado unanimamente um dos maiores jogadores do alvinegro, ao lado de Garrincha e Nílton Santos. No total, foram 313 jogos e 113 gols pelo Botafogo.

Saiu do Botafogo para jogar e ganhar dinheiro no Real Madrid de Puskas e Di Stéfano, onde jogou de 1959 a 1961. A passagem pelo exterior foi conturbada. O jogador não se adaptou e acusou os astros da equipe de boicotarem o seu futebol. Voltou da Espanha para o Botafogo, onde jogou entre 1961 e 1962. Teve ainda uma breve passagem pelo São Paulo em 1963. No ano seguinte, encerrou a carreira de jogador e iniciou a de treinador no Sporting Cristal, do Peru. Foi treinador da seleção peruana na Copa de 1970, na Turquia e na Arábia Saudita, além de times como o River Plate da Argentina, o Fluminense e o Botafogo.

Didi foi um dos jogadores mais criativos de sua época. Criou a famosa “folha-seca”, um jeito venenoso de bater faltas. A bola subia, despretensiosa. Ao chegar perto do gol, tomava outra direção, caindo longe dos braços dos goleiros, lembrando o movimento de uma folha caindo de uma árvore.

Alguns fatos marcaram a vida desse magnífico jogador. Fez o gol inaugural do Estádio do Maracanã, em 1950, no jogou entre a seleção de novos do Rio e de São Paulo, com vitória dos paulistas por 2 a 1. Em 1957, depois de ganhar o campeonato carioca pelo Botafogo, atravessou a pé a cidade do Rio de Janeiro, cumprindo uma promessa. Ainda em 1957, com uma “folha-seca”, fez o gol da classificação do Brasil nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 1958. Na final da Copa, mostrou liderança e comando ao buscar a bola nas redes brasileiras quando do primeiro gol sueco, levando-a até o meio-campo e iniciando ali a virada canarinho.

Foi 4 vezes campeão carioca: em 1951 pelo Fluminense e em 1957, 1961/62 pelo Botafogo. Disputou 3 Copas do Mundo, em 1954, 1958 e 1962. Foi o pilar da conquista da Copa do Mundo de 1958. No mesmo time que tinha Pelé e Garrincha, foi considerado o maior jogador da Copa. Foi ainda Bi-Campeão Mundial pela Seleção, em 1962. Jogou 74 partidas pela Seleção, marcando 21 gols. Está na seleção de todos os tempos de Fluminense e Botafogo.

No início de 2000, foi homenageado com uma placa no Maracanã (por ter feito o gol inaugural), na cerimônia de inauguração da primeira etapa da reforma do estádio. Ainda neste ano, no dia 24 de janeiro, ao lado de George Best, Van Basten e Zico, entrou para o International Football Hall of Champions, o Hall da Fama da FIFA, onde já estão jogadores como Pelé, Beckenbauer e Cruyff. Com seu jeito peculiar de bater na bola, lançamentos perfeitos e dribles desconcertantes, foi inesquecível. Seus títulos e glórias fizeram de Didi o maior meia do futebol brasileiro.

“Eu sempre tive muito carinho por ela. Porque se não a tratarmos com carinho, ela não obedece. Quando ela vinha, eu a dominava, ela obedecia. Às vezes ela ia por ali, e eu dizia: ‘Vem cá, filhinha’, e a trazia. Eu pegava de calo, de joanete, e ela estava ali, obediente. Eu a tratava com tanto carinho como trato minha mulher. Tinha por ela um carinho tremendo. Porque ela é fogo. Se você a maltratar, quebra a perna. É por isso que eu digo: ‘Rapazes, vamos, respeitem. Esta é uma menina que tem que ser tratada com muito amor...’ Conforme o lugarzinho em que a tocarmos, ela toma um destino”.
(Valdir Pereira, o Didi, sobre o trato com a bola)

“Quando eu jogava futebol, se pudesse, tinha sempre que pôr uma bolinha embaixo da cama. Quando eu acordava, tocava nela, e sentia, tinha sensibilidade, dava o toque inicial nela, dizendo: ‘ela está aí’”.
(Valdir Pereira, o Didi, sobre a bola)

“Eu não precisava correr. Quem precisava correr era a bola. Eu dava um passe de 40 metros, para que que eu vou correr quase 35 metros para poder dar um passe de 5, se eu posso dar um passe de 40”.
(Valdir Pereira, o Didi, sobre a sua facilidade em fazer lançamentos)

“Eu tive uma satisfação íntima quando fiz o primeiro gol do Maracanã, em 1950. Eu passei duas noites sem dormir e sempre procurava passar perto do Maracanã. Pensava: ‘Puxa, eu inaugurei esse negócio, isso aí vai ter uma placa’. Só o dia que destruírem esse estádio que vão esquecer do Didi, que fez o primeiro gol”.
(Valdir Pereira, o Didi, sobre ter feito o primeiro gol do Maracanã)

“Eu gostaria que a máquina do tempo recuasse um pouquinho e desse a oportunidade para vocês que não me viram e não tiveram a felicidade de ver um Nílton Santos, um Garrincha, um Pelé, um Didi, um Zizinho... Queria que a máquina do tempo recuasse um pouquinho e fizesse um jogo entre 1958 e 1970... e seria o espetáculo da terra. Meio tempo Pelé no time de 58, e meio tempo Pelé no time de 70. Seria uma coisa fantástica”.
(Valdir Pereira, o Didi, sobre os grandes jogadores de sua época)

“Não se podia desejar mais de um homem, ou por outra: não se podia desejar mais de um brasileiro. Ninguém que jogasse com mais gana, mais garra, e, sobretudo, com mais seriedade. Nem sempre marcava gols. Mas estava, fatalmente, por trás dos tentos alheios. Era ele quem amaciava o caminho, quem desmontava a defesa inimiga com seus lançamentos em profundidade. Com uma simples ginga de corpo, liquidava o marcador. E nas horas em que os companheiros pareciam aflitos, ele, com sua calma lúcida, o seu clarividente métier, prendia a bola e tratava de evitar um caos possível”.
(Nelson Rodrigues, jornalista, escritor e dramaturgo, após a vitória do Brasil contra a Suécia na Final da Copa do Mundo de 1958)

“Com suas gingas maravilhosas, ele, em pleno jogo, dava a sensação de que lhe pendia do peito não a camisa normal, mas um manto de cetim azul, com barra de arminho”.
(Nelson Rodrigues, jornalista, escritor e dramaturgo, após a vitória do Brasil contra a Suécia na Final da Copa do Mundo de 1958)

“Com sua voz bonita, parecida com a do locutor Luiz Jatobá e levemente pachola, ele caprichava na escolha das palavras. Não chamava a bola de bola, mas de “menina”. Orgulhava-se de nunca ter pisado nela com as travas da chuteira – era como se jogasse de polainas. Quando entrava em campo, observava como este ou aquele adversário suspirava de admiração e o namorava com os olhos. Didi decidia: “Esse é meu fã. É para cima dele que eu vou”. Reinava no gramado com seu porte alto, ereto, os olhos à altura da linha do horizonte. Nunca punha a cabeça na bola – a cabeça fora feita para pensar, não para dar marradas. E, embora fosse um mestre do drible, só driblava em último recurso. Seu forte eram os passes de quarenta metros, de curva, que pareciam ir em direção à cabeça do adversário e se desviavam, caindo de colher para o companheiro”.
(Ruy Castro, jornalista e escritor)

“Didi dá vida à bola. Faz ela falar.”
(Companheiros de Didi na Copa do Mundo de 1958)

"Didi, do chute oblíquo e dissimulado como o olhar de Capitu." (Armando Nogueira, jornalista e escritor)

"Se eu e Nílton estivéssemos no Mundial da Inglaterra, não haveria aquele fiasco. Aquela gente ia ver quem tinha gasolina no tanque."
(Didi, ex-meia da Seleção Brasileira, sobre Nílton Santos e a Copa de 66)

"O estilo era cadenciado, lento. Bola de pé em pé para não gastar energia. Afinal, se somadas, nossas idades passariam de mil anos!"
(Didi, sobre o estilo de jogo brasileiro na Copa do Chile, em 62)

"Foi uma honra jogar com eles. Eram todos craques."
(Gérson, ex-craque da Seleção Brasileira, prestando sua homenagem a Didi, Nílton Santos, Garrincha e outros, com quem atuou no Botafogo)

"Herdei do Mestre Ziza o bastão de organizador de jogadas do futebol brasileiro"
(Didi, o maior meia da história do futebol brasileiro)